O impacto da Nutrição Funcional nas doenças autoimunes
A medicina convencional disponibiliza vários tratamentos centrados no controlo dos sintomas, mas há cada vez mais estudos que destacam o papel da alimentação na gestão das doenças autoimunes. A Nutrição Funcional surge, assim, como uma abordagem capaz de modular a resposta imunológica, reduzir a inflamação e promover o bem-estar.
Neste artigo, exploro o impacto de fatores nutricionais, de suplementação alimentar e de estilo de vida como uma abordagem promissora para aliviar os sintomas e até retardar a progressão das doenças autoimunes.
O que são doenças autoimunes?
O sistema imunitário é fundamental para a nossa saúde, defendendo o organismo contra agentes patogénicos e protegendo as células e tecidos. Quando está equilibrado e a funcionar normalmente, este sistema consegue distinguir entre elementos próprios do corpo e elementos externos, num processo conhecido como autotolerância, que lhe permite desempenhar a sua função de defesa de forma controlada.
Nas doenças autoimunes (DAI), esse mecanismo de autotolerância fica comprometido. O sistema imunitário perde a capacidade de distinção e começa a atacar as células do próprio organismo, causando inflamação crónica e danos nos tecidos1. Estas doenças podem ser sistémicas, como é o caso do lúpus eritematoso sistémico, que afeta várias partes do corpo, ou localizadas, afetando órgãos específicos, como na diabetes tipo 1, em que o sistema imunitário destrói as células produtoras de insulina no pâncreas.
Compreender estas doenças e a sua relação com fatores alimentares é essencial para encontrar estratégias que possam aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A Nutrição Funcional surge como uma ferramenta valiosa para aliviar os sintomas e até retardar a progressão das DAI.
Como é que a Nutrição Funcional ajuda a prevenir e controlar as doenças autoimunes?
A relação entre alimentação e DAI tem sido amplamente estudada. Atualmente, sabemos que a saúde intestinal, o consumo de alimentos inflamatórios e as deficiências nutricionais desempenham papéis importantes no desencadeamento e agravamento dos sintomas dessas condições.
1. Padrão alimentar anti-inflamatório
Um padrão alimentar anti-inflamatório é um dos pilares na gestão das DAI. A dieta mediterrânica, rica em ácidos gordos ómega-3, frutas, vegetais e azeite extra virgem, apresenta propriedades anti-inflamatórias que ajudam a restaurar o equilíbrio intestinal e permitem modular a resposta imunitária2. Também a dieta paleolítica modificada pode contribuir para a redução da gravidade dos sintomas3.
Por outro lado, a dieta ocidental, um padrão alimentar repleto de alimentos processados, óleos ricos em ómega-6, açúcar e carne processada, está associada a um aumento da inflamação e da gravidade dos sintomas nas DAI4.
Nos casos de sintomas intestinais, deve ser avaliada a pertinência da exclusão do glúten, já que estudos mostram que pode melhorar significativamente os marcadores de autoimunidade5. Por exemplo, no caso de pacientes celíacos ou com tiroidite de Hashimoto, uma dieta sem glúten é indispensável5.
2. Intestino e imunidade
O intestino é considerado um dos principais reguladores do sistema imunitário. A microbiota intestinal desempenha um papel essencial no sistema imunitário e na suscetibilidade ou resistência a doenças autoimunes, alérgicas e crónicas6.
As DAI surgem cada vez mais associadas à disbiose intestinal, ou seja, alterações na composição da microbiota intestinal por diminuição da função e diversidade bacteriana, comprometimento da função da barreira intestinal e aumento da inflamação6
A inclusão de probióticos e alimentos fermentados na alimentação pode ser uma abordagem terapêutica para restaurar a saúde intestinal e modular positivamente o sistema imunológico em indivíduos com DAI6.
3. Nutrientes Essenciais
Determinados nutrientes desempenham um papel crucial na regulação do sistema imunitário. As deficiências de vitamina D, ómega-3, zinco e selénio estão associadas a um aumento da atividade autoimune. A reposição destes nutrientes pode modular a resposta imunitária e a e reduzir o risco de exacerbações das DAI.
· Vitamina D: fundamental para a regulação da resposta imunológica, vários estudos indicam que a suplementação de vitamina D está associada à redução do risco de desenvolvimento de DAI7, atenuando sintomas de doenças como a esclerose múltipla e a artrite reumatoide8.
· Ómega-3: com potentes propriedades anti-inflamatórias, os ácidos gordos ómega-3 (EPA e DHA). Uma meta-análise recente destacou sua capacidade de reduzir marcadores inflamatórios e melhorar a qualidade de vida de pacientes com DAI9.
· Glutationa: é o principal antioxidante intracelular, essencial para proteger as células imunológicas do stress oxidativo. A suplementação de precursores da glutationa, como N-acetilcisteína (NAC), contribui para manter os seus níveis e preservar a função imunológica10.
Estilo de Vida e a relação com as doenças autoimunes
Para além da alimentação, fatores como a atividade física, a qualidade de sono e a gestão do stress desempenham um papel significativo na modulação das DAI.
O exercício físico regular ajuda a reduzir a inflamação sistémica, melhora a mobilidade articular e alivia sintomas psicológicos associados às DAI, promovendo o bem-estar11.
A gestão do stress é essencial para lidar com um dos principais gatilhos de exacerbações autoimunes12. Estudos recentes mostram que o stress traumático, incluindo traumas psicológicos na infância e eventos stressantes da vida, está associado ao aumento de marcadores inflamatórios e a um risco acrescido de desenvolvimento de DAI. Práticas como mindfulness, meditação e terapia cognitivo-comportamental podem reduzir significativamente os efeitos negativos do stress no organismo e controlar estas patologias.
Conclusão
A Nutrição Funcional oferece uma abordagem abrangente e baseada em evidência científica para a modulação e alívio dos sintomas das doenças autoimunes. O investimento numa alimentação anti-inflamatória, na suplementação adequada e em mudanças no estilo de vida permite melhorar significativamente a qualidade de vida de quem sofre destas condições. Embora seja necessária mais investigação, o que sabemos hoje aponta para a importância de uma abordagem personalizada e integrativa no cuidado de pacientes com doenças autoimunes.
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