mãe e bebé deitados na cama a dormir
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Como promover o sono infantil

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Como promover o sono infantil

O sono é fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças – desde o crescimento físico ao amadurecimento cerebral, passando pelo bem-estar emocional e pelo fortalecimento do sistema imunológico. No entanto, o sono infantil nem sempre é uma prioridade para os pais. Ao prepararmo-nos para a paternidade, focamo-nos em questões mais imediatas, como o parto, a amamentação e os cuidados ao recém-nascido. Só quando enfrentamos os constantes despertares noturnos, que deixam qualquer pai cansado e privado de sono, é que começamos a reconsiderar a importância do sono e a questionar como melhorar o sono do bebé à noite.

A maioria dos bebés acorda regularmente durante a noite, tornando esses casos bastante comuns. Não seria, portanto, importante investir na educação para a saúde sobre o sono infantil, equiparando essa preocupação a outras?

Para fazermos a nossa parte, selecionámos algumas estratégias que os cuidadores podem adotar para promover hábitos de sono saudáveis durante a infância, e que incluem a configuração do ambiente ideal para o sono do bebé, as práticas de higiene do sono, e a abordagem e mindset dos pais. Compreender e promover boas práticas de sono desde a primeira infância é vital para que as crianças cresçam saudáveis e preparadas para enfrentar os desafios diários – e tudo começa na família.

Como deve ser o ambiente do sono?

Temperatura

Embora nem sempre seja intuitivo, é um facto cientificamente comprovado que o ser humano dorme melhor em ambientes frescos. A produção de melatonina está ligada à temperatura corporal, e as temperaturas moderadamente baixas facilitam o adormecimento e a manutenção de um sono profundo1,2,3. No que toca à temperatura ideal para o quarto de um bebé, o termostato deve marcar entre 19ºC e 21ºC. Para garantir um sono seguro, recomendamos o uso de um saco de dormir com isolamento térmico. A escolha da espessura do saco, bem como da roupa interior do bebé, dependerá sempre da temperatura ambiente do quarto1,2,3.

Entre as 4 e as 5 horas da manhã, dá-se uma diminuição na temperatura corporal basal, causada por um pico de melatonina, que é essencial para manter o sono4. Se o bebé despertar, poderás voltar a adormecê-lo acrescentando roupa na cama .

Escuridão

A exposição à luz ou à escuridão, tanto de dia como de noite, envia mensagens à nossa retina ocular que têm como destino o hipotálamo. É a partir desta área do cérebro que são enviados sinais que permitem controlar as hormonas, a temperatura corporal e outras funções essenciais que influenciam a sensação de sonolência ou, pelo contrário, estimulam o nosso estado de alerta4

É por isso que, como sabemos pelo senso comum, a presença de luz promove o estado de vigília. Por oposição, um ambiente de escuridão total estimula e ajuda a manter o sono. A maioria das crianças é muito sensível até à mais ligeira claridade no seu ambiente de sono, pelo que é aconselhável um isolamento completo - recorrendo, se necessário, a estores blackout ou a persianas que bloqueiem totalmente a luz1,3,4

A partir das 6 semanas de vida, o bebé começa a desenvolver o seu ritmo circadiano. Assim, por volta dos 3 meses, poderás começar a proporcionar-lhe sestas no mesmo ambiente do sono noturno – ou seja, na escuridão. A presença de luz durante as sestas pode comprometer a qualidade do sono e levar a um estado de cansaço, resultando em bebés ou crianças mais irritadas e difíceis de adormecer à noite4

Silêncio

O barulho, tal como a luz, mantém o ser humano em estado de alerta. Por esse motivo, o bebé deve dormir num lugar tão silencioso quanto possível. É normal que isto pareça difícil de garantir durante todo o período sono do bebé, pelo que podes usar ruído branco ou outros tipos de ruídos contínuos. O ruído branco, em particular, tem uma dupla função: além de abafar os sons da casa e dos seus habitantes, promove também o relaxamento do bebé, ao lembrar-lhe o ambiente sonoro uterino5

É seguro manter o ruído branco durante todo o sono do bebé, desde que não ultrapasse os 50 a 60 decibéis (equivalente ao volume de uma conversa). É igualmente importante que não esteja associado a rede Wi-Fi ou dispositivos móveis, uma vez que os campos eletromagnéticos provenientes destes dispositivos podem interferir no sono mais profundo, conhecido como estágio NREM 3, atrasando ou interrompendo essa fase crucial do sono2.  

Cheiro

Os bebés e crianças pequenas são especialmente sensíveis a cheiros fortes, como o aroma de detergentes na roupa de cama. Recomendamos que laves a roupa com detergentes neutros, que são mais adequados à pele sensível dos bebés. De forma mais geral, manter um ambiente limpo e com ar de qualidade é essencial para um sono tranquilo e reparador5.

Medidas de higiene do sono infantil

O ambiente do quarto é um ponto de partida importante, mas há várias outras estratégias que os pais podem implementar para promover um sono infantil saudável. As medidas de higiene do sono aplicadas às crianças assemelham-se às recomendadas para adultos e beneficiam toda a família.

- Dá o exemplo! A família é o principal modelo para a criança, e pais que tenham o hábito de deitar e acordar cedo serão sempre uma influência positiva. Além de reforçar a importância do descanso, mostra que o sono é uma prioridade partilhada por todos3,6.

- Estabelece horários fixos para a criança dormir e acordar, mantendo uma rotina regular e consistente. Evita compensar noites mal dormidas e acordar mais tarde: as variações superiores a 2 horas, por exemplo durante o fim de semana, podem afetar o sono noturno da criança e dificultar o regresso à rotina4,6,7.

- A sequência de acontecimentos que precedem o sono ajuda a criança a compreender que o momento de dormir está próximo. Manter uma rotina diária consistente oferece previsibilidade e segurança, permitindo uma entrega tranquila ao sono7,8.

- Expõe a criança à luz exterior durante pelo menos 30 minutos diários. O ritmo circadiano é responsável por regular o sono em resposta à luz e à escuridão, sendo essencial que o cérebro receba sinais claros sobre as diferentes alturas do dia para promover a sonolência à noite2,7.

- Diminui as luzes ao anoitecer. A melatonina é uma hormona que começa a ser segregada aproximadamente 30 minutos após a exposição à escuridão. Reduz a intensidade da iluminação doméstica uma hora antes de deitar e opta por pontos de luz com cores quentes, como amarelo e laranja, que favorecem o relaxamento e facilitam o sono. Evita a luz branca ou azul, como a dos dispositivos digitais, pois estas tonalidades dificultam o adormecimento2,4,7.

- Na mesma linha, limita a exposição às telas digitais. Existem diferentes recomendações sobre o número de horas que as crianças pequenas devem passar em frente aos tablets, mas é consensual que o uso excessivo tem um impacto direto no sono, além de provocar perturbações no desenvolvimento cognitivo, motor e sensorial4,6,7.

- Garante que o bebé ou criança tem a oportunidade de brincar ao ar livre e de explorar a natureza. Além da exposição à luz, o estímulo sensorial é muito importante, permitindo à criança descobrir o mundo. Para dormir bem, é necessário esse desgaste energético e satisfação sensorial que só o contato com o meio natural oferece4.

- Preenche o mundo emocional da criança e demonstra total disponibilidade emocional. Assim, sempre que algo a preocupar, ela terá um lugar seguro a que recorrer. A qualidade de sono da criança depende fortemente de se sentir segura e emocionalmente ouvida4,8.

- Limita os equipamentos eletrónicos dentro do quarto. Como já mencionado, as redes de telemóveis e Wi-Fi afetam o sono NREM 3. Coloca os dispositivos, como telemóveis, tablets e computadores, fora do quarto ou opta pelo modo avião2.

- Depois do primeiro ano de vida (para prevenir o risco de asfixia), introduz um objeto de segurança para a criança associar ao sono. Este objeto não substitui a presença dos pais, mas proporciona tranquilidade e ajuda a criar uma relação positiva com o sono, promovendo o conforto1,9,10.

- Garante uma nutrição adequada. Após a introdução alimentar, é comum ocorreram deficiências nutricionais, que podem afetar o sono, causando despertares noturnos por fome. Procura um(a) nutricionista especializado(a) em pediatria para assegurar que a criança recebe os nutrientes necessários de acordo com as suas necessidades individuais4,9.

- A última refeição do bebé deve ocorrer 2 a 3 horas antes do sono noturno, para que a digestão não interfira com o sono. Se for necessário um suplemento, opta por uma ceia de fácil digestão para ser consumida mais perto da hora de deitar da criança4,9.

- Transforma as sestas numa prioridade. Pode parecer contraintuitivo, mas quanto melhor a criança dormir durante o dia, melhor será também o seu sono noturno. É importante garantir que as sestas decorrem nas mesmas condições do sono noturno – no mesmo lugar, com os mesmos confortos – para promover a sua qualidade e proporcionar uma sensação de sono reparador1,4,6,9,11.

- Se a latência de sono – isto é, o tempo que a criança demora a adormecer – for superior a 30 minutos, é preferível sair do quarto, realizar uma atividade relaxante e só depois voltar a tentar. Permanecer com a criança no quarto durante muito tempo pode ter um efeito indesejado, fazendo com que ela associe o quarto a um lugar de “guerra” com o sono3,6.

 Mindset parental

Os despertares noturnos são eventos normais e esperados durante a infância – até porque também nós, adultos, experienciamos despertares. É importante reconhecer que  ninguém consegue dormir ininterruptamente durante a noite inteira. Numa boa noite de sono, uma criança dorme, em média, 5 horas seguidas. Adotar expectativas realistas resulta em pais menos frustrados4

Apressar o adormecimento de uma criança, ou iniciar esse processo sabendo que será um desafio, pode aumentar o stress no cuidador. Talvez notes que o entardecer te faz sentir picos de ansiedade, à medida que começas a antecipar uma noite de sono difícil. Lembra-te que as crianças absorvem emocionalmente o estado de espírito dos seus principais cuidadores. Antes de acompanhares a criança ao quarto, faz alguns exercícios de relaxamento, como meditação ou técnicas de respiração, para te ajudar a esvaziar a mente e a promover um ambiente mais tranquilo antes do sono3

Em suma, o sono infantil envolve a saúde integrativa da criança e da sua família. Para dormir bem, é essencial que o bem-estar seja promovido em todos os aspetos da vida. A criança, como um ser que depende mais da intuição e dos seus impulsos naturais, manifesta essa necessidade uma forma mais pura e direta. Cabe à família preencher esse espaço de mediação e atender às suas necessidades físicas, emocionais, sociais e sensoriais.

Põe em prática estas recomendações e promove o bem-estar de toda a família

Estas são as bases para promover um sono durante a infância saudável e, por consequência, todo o bem-estar familiar. A privação de sono afeta muitas famílias e pode levar a um cansaço extremo que acaba por influenciar tudo à nossa volta, como o desempenho no trabalho, a vida social e o bem-estar geral.

É importante lembrar também se esta é uma situação que afeta a família e se mesmo com a implementação destes princípios na rotina do bebé e da família as noites de sono não forem tranquilas, deves recorrer a um profissional do sono do bebé, capaz de analisar e ajudar a vossa situação em particular.

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Referências:

1 - Horváth, K., & Plunkett, K. (2018). Spotlight on daytime napping during early childhood. Nature and Science of Sleep, Volume 10. https://doi.org/10.2147/NSS.S126252

2 - Silva, M. (2018). Insónia Pediátrica: Uma Revisão da Literatura. Universidade de Lisboa.

3 - Zupanec, S., Jones, H., McRae, L., Papaconstantinou, E., Weston, J., & Stremler, R. (2017). A Sleep Hygiene and Relaxation Intervention for Children With Acute
Lymphoblastic Leukemia. Cancer Nursing, 40(6), 488–496. https://doi.org/10.1097/NCC.0000000000000457

4 - Geraldes, R., & Paiva, T. (2014). Mecanismos Circadianos de Regulação do Sono. In O Sono e a Medicina do Sono.

5- Azevedo, L., Mota, L., & Machado, A. I. (2015). Ambiente de sono seguro no primeiro ano de vida. Nascer E Crescer, 24(1), 18–23. https://doi.org/10.25753/BirthGrowthMJ.v24.i1.8573Bacaro, V., Feige, B.,
Benz, F., Johann, A. F., De

6 - Halal, C., & Nunes, M. (2014). Education in children’s sleep hygiene: which approaches are effective? A systematic review. Jornal de Pediatria, 90(5). https://doi.org/10.1016/j.jped.2014.05.001

7 - Lopes, S., Almeida, F., Jacob, S., Figueiredo, M., Vieira, C., & Carvalho, F. (2016). Diz-me como dormes: hábitos e problemas de sono em crianças portuguesas em idade pré-escolar e escolar. Nascer e Crescer, 25(4), 211–216. https://doi.org/10.25753/BirthGrowthMJ.v25.i4.10798

8 - Bartolo, P., Devoto, A., Lombardo, C., Riemann, D., & Baglioni, C. (2020). The association between diurnal sleep patterns and emotions in infants
and toddlers attending nursery. Brain Sciences, 10(11), 1–13.
https://doi.org/10.3390/brainsci10110891

9 - Ferreira, M., Dias, I., Fernandes, L., & Madureira, N. (2018). Sesta em idade pré-escolar: realidade em infantários da região Centro de Portugal TT - Nap in preschool-age children: reality of child care centers in the central region of Portugal. Nascer
e Crescer
, 27(2), 88–92. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-07542018000200003&lang=en%0Ahttp://www.scielo.mec.pt/pdf/nas/v27n2/v27n2a03.pdf

10 - Sociedade Portuguesa de Pediatria. (2017). Recomendações SPS-SPP: prática da sesta da criança nas creches e infantários, públicos ou privados. 1–8.
https://www.spp.pt/userfiles/file/noticias_2017/versao profissionais de saude_recomendacoes sps-spp sesta na crianca.pdf

11 - Liu, J., Feng, R., Ji, X., Cui, N., Raine, A., & Mednick, S. C. (2019). Midday napping in children: Associations between nap frequency and duration across cognitive, positive psychological well-being, behavioral, and metabolic health outcomes. Sleep, 42(9), 1–17. https://doi.org/10.1093/sleep/zsz126

Aviso legal:
Este artigo não tem a intenção de diagnosticar, tratar ou substituir aconselhamento médico sendo o seu conteúdo apenas para fins informativos. Consulta um médico ou profissional de saúde sobre qualquer diagnóstico médico relacionado com a tua saúde ou mesmo eventuais opções de tratamento. As afirmações feitas sobre produtos específicos neste artigo não são aprovadas para diagnosticar, tratar, curar ou prevenir doenças.

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