Nos últimos anos, a ciência tem vindo a revelar uma ligação direta entre a nossa alimentação e um inimigo silencioso da saúde: a inflamação crónica de baixo grau. Ao contrário da inflamação aguda, que é uma resposta protetora e temporária do corpo a lesões ou infeções, a inflamação crónica instala-se de forma persistente e contribui para o desenvolvimento de várias doenças crónicas graves1 .
A boa notícia? Aquilo que colocamos no prato pode ser uma ferramenta poderosa para combater esta ameaça. Vamos descobrir como escolhas alimentares inteligentes, aliadas a um acompanhamento personalizado em Nutrição Funcional, podem fazer toda a diferença.
O que é a inflamação crónica de baixo grau e porque devemos preocupar-nos?
A inflamação crónica de baixo grau carateriza-se por uma ativação silenciosa, persistente e sistémica do sistema imunitário, sem que haja um gatilho óbvio como uma infeção aguda ou uma lesão1 . Imagina-a como um incêndio lento e invisível no interior do corpo, que, ao longo do tempo, vai danificando células e tecidos. Esta condição está intimamente ligada a imensas doenças crónicas, como a diabetes tipo 2, osteoporose e vários tipos de cancro1 .
Identificar os alimentos e padrões alimentares com potencial anti-inflamatório — e evitar os que intensificam a inflamação — é, por isso, uma prioridade para a saúde pública. O que comemos tanto pode apagar o "fogo" inflamatório como alimentá-lo.
O conceito de alimentação anti-inflamatória
Uma dieta anti-inflamatória baseia-se na inclusão regular de alimentos com efeitos anti-inflamatórios comprovados2,3 e na redução do consumo de alimentos pró-inflamatórios. Parece auto-evidente, mas para isso precisamos de conseguir medir esse impacto. Foi para isso que os investigadores desenvolveram o Índice Inflamatório Dietético (DII) — uma ferramenta que permite quantificar o impacto da alimentação nos marcadores de inflamação4,5.
Alimentos chave no combate à inflamação
Frutas e vegetais
Coloridos, vibrantes e cheios de vida — assim são os frutos e vegetais que nos ajudam a prevenir a inflamação3.
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Frutos vermelhos como mirtilos, morangos e framboesas são ricos em antocianinas, compostos antioxidantes com um forte poder anti-inflamatório;
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Vegetais de folha verde-escura, como espinafres, couve e brócolos, oferecem um cocktail nutritivo de vitaminas A, C, K e folatos, essenciais para o bom funcionamento do sistema imunitário.
Uma dica a ter em conta na hora de preparar as refeições: cada cor dos vegetais representa um tipo de fitoquímico único. Quanto mais colorido o prato, maior a diversidade das tuas defesas.
Peixes gordos
O salmão, a cavala, as sardinhas e o arenque são fontes excelentes de EPA e DHA — ácidos gordos ómega-3 com ação anti-inflamatória reconhecida¹,⁷. Estes nutrientes ajudam a reequilibrar a resposta inflamatória do organismo, combatendo o excesso de ómega-6 presente em dietas mais desequilibradas.
Azeite virgem extra
Mais do que um tempero, o azeite virgem extra é uma fonte de ácido oleico e compostos fenólicos como o oleocantal, com propriedades comparáveis às de anti-inflamatórios como o ibuprofeno8,9. Deve ser consumido cru para potenciar esses efeitos terapêuticos.
Frutos secos e sementes
Amêndoas, nozes, sementes de linhaça e de chia são concentrados naturais de ómega-3 vegetal, fibra e antioxidantes8. As nozes, em particular, destacam-se pelo teor de ácido alfa-linolénico, uma versão vegetal do ómega-3 com benefícios comprovados1. Leva sempre contigo um tupperware de frutos secos: são um snack saudável e prático, que ajuda a regular a inflamação e a saciedade.
Especiarias e ervas aromáticas
Além de ajudarem a dar sabor aos pratos, as especiarias são remédios ancestrais com várias propriedades terapêuticas:
- A curcuma (açafrão-das-índias) contém curcumina, uma das substâncias naturais mais estudadas pelas suas propriedades anti-inflamatórias3;
- O gengibre, com o composto ativo gingerol, ajuda a reduzir dores, inchaço e inflamação3;
- Alho, cebola, pimenta preta, canela — todos eles contribuem para uma resposta inflamatória mais equilibrada3.
Podes usar e abusar das especiarias (e da criatividade) para uma injeção de sabor e saúde nas tuas refeições diárias.
Alimentos que favorecem a inflamação — e que deves evitar ou reduzir
Enquanto alguns alimentos reforçam as tuas defesas, outros são responsáveis por aumentar a inflamação e comprometer o equilíbrio do organismo:
- Alimentos ultra-processados, ricos em açúcares adicionados, gorduras trans e aditivos artificiais, aumentam os níveis de citoquinas inflamatórias
- Carnes processadas, como bacon, fiambre e salsichas, contêm nitratos e nitritos com efeito inflamatório reconhecido5;
- Hidratos de carbono refinados (pão branco, massas, bolos) causam picos glicémicos e estimulam processos inflamatórios1;
- Refrigerantes e sumos industriais: uma explosão de açúcar, ao mesmo tempo pobre em fibra, que favorece o terreno inflamatório7;
- Gorduras saturadas em excesso, presentes em carnes vermelhas e laticínios gordos, podem agravar o estado inflamatório se consumidas sem moderação1.
A Dieta Mediterrânica como modelo anti-inflamatório
A Dieta Mediterrânica, tão enraizada na nossa cultura, é o padrão alimentar mais estudado e cientificamente validado no contexto da alimentação anti-inflamatória8,9. Assente em vegetais frescos, fruta da época, azeite virgem extra, cereais integrais e leguminosas, esta dieta privilegia ainda:
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Peixe e aves em quantidades moderadas
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Laticínios com baixo teor de gordura
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Frutos secos e sementes como fontes de gordura saudável
Inspirada nas tradições culinárias dos países banhados pelo Mediterrâneo, a Dieta Mediterrânica tem demonstrado, de forma consistente e validada por sucessivos estudos, a capacidade de reduzir o nível de inflamação de baixo grau no organismo10. Este impacto deve-se à ação sinérgica dos alimentos que a compõem, e que atuam sobre vários sistemas do organismo:
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No intestino, modulando a microbiota
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No sistema imunitário, ajudando a reduzir a produção de citoquinas inflamatórias
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No sistema cardiovascular, contribuindo para a regulação dos lípidos e a diminuição do stress oxidativo
A evidência é clara: a longo prazo, a Dieta Mediterrância reduz significamente o risco de doenças crónicas associadas à inflamação10.
Por onde começar? Um guia intuitivo para o teu dia a dia:
✅ Recheia o teu prato com frutas e vegetais
Quanto mais variedade de cores, maior a diversidade de antioxidantes e compostos protetores. Usa o arco-íris como inspiração!
✅ Troca os cereais refinados por versões integrais
Arroz integral, aveia, quinoa ou massa integral oferecem mais fibra, saciedade e menos impacto glicémico.
✅ Dá lugar ao peixe gordo
Inclui salmão, sardinha ou cavala duas vezes por semana — são fontes preciosas de ómega-3 com ação anti-inflamatória comprovada.
✅ Faz do azeite extra virgem o protagonista da tua cozinha
Usa-o cru ou em preparações leves para beneficiar das suas propriedades protetoras.
✅ Adiciona frutos oleaginosos e sementes às tuas refeições
Amêndoas ao pequeno-almoço, nozes ao lanche ou sementes de linhaça moídas nos pratos principais — até pequenas porções trazem grandes benefícios!
✅ Aposta nas ervas aromáticas e especiarias
Especiarias como a curcuma, gengibre, alho, salsa e alecrim reforçam as tuas defesas, ajudam a realçar o sabor dos pratos e reduzem a necessidade de sal.
✅ Hidrata-te com intenção
A água continua a ser uma importante aliada no equilíbrio do organismo. Apostas nos chás de ervas e infusões naturais, para evitar a saturação, e evita bebidas açucaradas artificiais.
✅ Consumo consciente de álcool
Se decidires consumir álcool, privilegia o vinho tinto (com moderação!), pela riqueza em compostos fenólicos. O equilíbrio é sempre indispensável.
Adotar uma alimentação anti-inflamatória é uma estratégia poderosa de prevenção e promoção da saúde. A ciência confirma-o: padrões alimentares como a Dieta Mediterrânica estão associados a uma redução significativa do risco de doenças crónicas.
A alimentação, no entanto, é apenas uma parte do puzzle. O verdadeiro equilíbrio depende da integração de uma nutrição consciente com outros fatores, como a prática de atividade física, um sono reparador e uma boa gestão emocional. Se procuras uma mudança duradoura, lembra-te sempre de ouvir o teu corpo, respeitar o seu ritmo, e fazer escolhas consistentes que nutrem não só o prato, mas todo o teu bem-estar.
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Referências
Calder PC, Ahluwalia N, Brouns F, et al. Dietary factors and low-grade inflammation in relation to overweight and obesity. Br J Nutr. 2011;106 Suppl 3:S5-78. Aleksandrova K, Koelman L, Rodrigues CE. Dietary patterns and biomarkers of oxidative stress and inflammation: A systematic review of observational and intervention studies. Redox Biol. 2021;42:101869. Yahfoufi N, Alsadi N, Jambi M, Matar C. The Immunomodulatory and Anti-Inflammatory Role of Polyphenols. Nutrients. 2018;10(11):1618. Hébert JR, Shivappa N, Wirth MD, Hussey JR, Hurley TG. Perspective: The Dietary Inflammatory Index (DII)-Lessons Learned, Improvements Made, and Future Directions. Adv Nutr. 2019;10(2):185-195. doi: 10.1093/advances/nmy071. Shivappa N, Steck SE, Hurley TG, Hussey JR, Hébert JR. Designing and developing a literature-derived, population-based dietary inflammatory index. Public Health Nutr. 2014;17(8):1689-1696. Graffouillère L, Deschasaux M, Mariotti F, et al. The Dietary Inflammatory Index Is Associated with Prostate Cancer Risk in French Middle-Aged Adults in a Prospective Study. J Nutr. 2016;146(4):785-791. Zhong X, Guo L, Zhang L, Li Y, He R, Cheng G. Inflammatory potential of diet and risk of cardiovascular disease or mortality: A meta-analysis. Sci Rep. 2017;7(1):6367. Casas R, Sacanella E, Estruch R. The immune protective effect of the Mediterranean diet against chronic low-grade inflammatory diseases. Endocr Metab Immune Disord Drug Targets. 2014;14(4):245-254. Schwingshackl L, Hoffmann G. Mediterranean dietary pattern, inflammation and endothelial function: A systematic review and meta-analysis of intervention trials. Nutr Metab Cardiovasc Dis. 2014;24(9):929-939. Bonaccio M, Costanzo S, Ruggiero E, et al. Increased Adherence to a Mediterranean Diet Is Associated With Reduced Low-Grade Inflammation after a 12.7-Year Period: Results From the Moli-sani Study. Nutrients. 2022;14(24):5299. doi: 10.3390/nu14245299.
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