Os alimentos fermentados acompanham a humanidade há mais de 8000 anos: originalmente como forma de conservar alimentos, e hoje como um dos pilares da alimentação saudável moderna1. De iogurtes e kefir a kombucha, chucrute, tempeh ou miso, a fermentação acrescenta sabor, durabilidade e um conjunto de benefícios que vão do intestino ao sistema imunitário e à prevenção de doenças crónicas. A evidência científica atual tem vindo a confirmar que estes produtos são muito mais do que simples alimentos - são sistemas vivos, capazes de influenciar a microbiota humana e modular respostas metabólicas e inflamatórias2-4.
Fermentação: uma tecnologia ancestral e sustentável
Os alimentos fermentados resultam do crescimento controlado de microrganismos que transformam os ingredientes através de reações enzimáticas - um processo que dá origem a produtos tão diferentes como o pão de massa-mãe, o miso ou a kombucha.
Para além de aumentar a segurança e a conservação dos alimentos, a fermentação é um método sustentável e amigo do ambiente. Permite transformar matérias-primas vegetais (e até resíduos agrícolas) em alimentos ricos em proteínas, aminoácidos essenciais e compostos bioativos - contribuindo para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e pode, por isso, ser um aliado importante na erradicação da fome e na promoção da saúde global1.
Como é que a fermentação melhora o valor nutricional de alimentos tão simples?
Essencialmente de duas formas:
- Aumenta a disponibilidade de minerais, como cálcio, ferro e zinco, ao degradar compostos que dificultam a sua absorção;
- Estimula a produção de vitaminas do complexo B (especialmente B2 e B12), ácido fólico e vitamina K, nutrientes muitas vezes ausentes nas dietas à base de alimentos processados2,4.
Principais tipos de alimentos fermentados e as suas propriedades
Hoje sabemos que praticamente todas as culturas do mundo desenvolveram as suas próprias versões de alimentos fermentados, usando ingredientes locais e os microrganismos naturalmente presentes neles3-5. Entre os mais conhecidos destacam-se:
- Lácteos fermentados (iogurte, kefir, certos queijos): ricos em bactérias ácido-lácticas que melhoram a digestão da lactose, favorecem a barreira intestinal, reforçam o sistema imunitário e ajudam a reduzir marcadores de inflamação sistémica3,4. A fermentação diminui o teor de lactose e reduz as proteínas alergénicas, tornando estes produtos mais toleráveis para pessoas intolerantes à lactose3,4;
- Vegetais fermentados (chucrute, kimchi, pickles naturais): contêm probióticos e antioxidantes, além de aumentarem a biodisponibilidade de vitaminas e minerais5;
- Leguminosas e cereais fermentados (tempeh, miso, natto, pão de massa-mãe): apresentam um perfil proteico melhorado, com menos antinutrientes e mais compostos bioativos como o GABA — uma substância natural que ajuda a relaxar o sistema nervoso4,5;
- Bebidas fermentadas (kombucha, kvass, bebidas lácteas fermentadas): ricas em ácidos orgânicos, enzimas e polifenóis que favorecem o equilíbrio da microbiota intestinal e apoiam a desintoxicação hepática4;
- Produtos de origem animal fermentados (alguns enchidos curados, peixe fermentado): preservam proteínas e gorduras de forma segura e natural, desenvolvendo compostos antioxidantes (e sabores) únicos1,4.
Estes alimentos fornecem não só microrganismos vivos, mas também enzimas e metabolitos - conhecidos como pós-bióticos - que contribuem para o equilíbrio imunitário, a energia e o bem-estar digestivo1-5.
Fermentação e benefícios para a saúde
1. Saúde mental e eixo intestino-cérebro
Hoje sabemos que é no intestino que se produzem vários neurotransmissores importantes5, e a fermentação pode ajudar neste processo, estimulando a produção natural de GABA, um neurotransmissor associado ao relaxamento, à redução do stress e à saúde cerebral1.
O consumo de probióticos, incluindo aqueles provenientes de alimentos fermentados, também tem sido associado a melhorias na saúde mental, reduzindo sintomas de depressão, ansiedade e stress, e contribuindo para melhorias no humor e na regulação emocional1,5.
Algumas estirpes específicas, como Lactobacillus rhamnosus e Bifidobacterium longum, são mesmo consideradas “psicobióticos” pelos seus efeitos ansiolíticos e antidepressivos, que resultam da capacidade de comunicar com o sistema nervoso através do eixo intestino-cérebro²⁻⁴.
2. Gestão de peso e equilíbrio da glicemia
Dietas ricas em iogurte têm sido associadas a menor ganho de peso a longo prazo, melhor composição corporal e maior saúde metabólica3. O iogurte fermentado tradicional mostrou mesmo ser mais eficaz do que o leite na redução da resistência à insulina em mulheres com obesidade e síndrome metabólica1. Também o consumo de kimchi tem sido associado à redução do peso corporal e a melhorias em parâmetros metabólicos em pessoas com excesso de peso e obesidade⁶.
3. Saúde cardiovascular e pressão arterial
Um maior consumo de leites fermentados e queijo está associado a um risco reduzido de doença cardiovascular, especificamente na população feminina2. Os alimentos fermentados também podem ajudar a baixar a tensão arterial, graças à formação de pequenos fragmentos de proteína durante a fermentação (peptídeos) que atuam de forma semelhante a medicamentos anti-hipertensores, ajudando os vasos sanguíneos a relaxar4,6.
A evidência científica atual confirma que o consumo regular de alimentos fermentados contribui para manter o equilíbrio da microbiota intestinal, reforçar o sistema imunitário e prevenir várias doenças metabólicas, cardiovasculares e neurológicas. Estes benefícios resultam não apenas dos microrganismos vivos presentes nos alimentos, mas também dos metabolitos e enzimas produzidos ao longo do processo de fermentação.
Num mundo em busca de soluções alimentares sustentáveis, os alimentos fermentados reúnem uma tríade única — sabor, saúde e sustentabilidade — que os coloca no centro da nutrição do futuro.
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Referências
Aviso legal
Este artigo não tem a intenção de diagnosticar, tratar ou substituir aconselhamento médico sendo o seu conteúdo apenas para fins informativos. Consulta um médico ou profissional de saúde sobre qualquer diagnóstico médico relacionado com a tua saúde ou mesmo eventuais opções de tratamento. As afirmações feitas sobre produtos específicos neste artigo não são aprovadas para diagnosticar, tratar, curar ou prevenir doenças.