O que comer (ou evitar) para aliviar sintomas das enxaquecas
A enxaqueca é mais do que uma simples dor de cabeça: é uma condição neurológica que provoca crises intensas, muitas vezes acompanhadas de náuseas, vómitos, sensibilidade à luz, ao som e até ao movimento. Estima-se que afete mais de 1 bilião de pessoas em todo o mundo, com maior prevalência em jovens e mulheres, impactando fortemente a qualidade de vida1.
Embora os fatores genéticos e hormonais ditem a predisposição para enxaquecas, a ciência tem mostrado como a alimentação pode influenciar diretamente a frequência, intensidade e duração das crises2.
Vamos explorar os alimentos que podem ajudar a prevenir ou aliviar os sintomas da enxaquecas e aqueles que podem desencadear crises, e que por isso devem ser evitados ou consumidos com cautela.
Como é que a alimentação influencia as enxaquecas?
As enxaquecas são processos complexos, que envolvem alterações nos vasos sanguíneos do cérebro, inflamação e desequilíbrio nos sinais transmitidos pelo sistema nervoso. A alimentação pode interferir em vários pontos-chave:
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Regulação dos neurotransmissores, como a serotonina (ligada ao humor e à dor)2;
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Controlo da inflamação sistémica e do stress oxidativo3;
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Melhoria da circulação e do fluxo sanguíneo no cérebro3;
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Estabilidade dos níveis de açúcar no sangue (os jejuns prolongados ou os picos de açúcar podem precipitar crises de enxaqueca)3;
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Equilíbrio da microbiota intestinal e oral, que também pode afetar a vulnerabilidade de cada pessoa.
Ou seja: os alimentos podem atuar como protetores ou como gatilhos da enxaqueca — importa-nos perceber quais.
Que alimentos ajudam a prevenir ou aliviar enxaquecas?
1. Peixes gordos ricos em ómega-3
Salmão, sardinha, cavala e atum são excelentes fontes de gorduras anti-inflamatórias (EPA e DHA). Vários estudos sugerem que o consumo regular de ómega-3 (incluindo peixe gordo na dieta 2 a 3 vezes por semana) pode ajudar a reduzir a frequência e intensidade das enxaquecas5.
2. Sementes, leguminosas e vegetais de folha verde-escura
O magnésio é um mineral essencial para o relaxamento muscular e o bom funcionamento do sistema nervoso, e a sua deficiência está ligada a uma maior predisposição para enxaquecas6. Boas fontes alimentares de magnésio incluem feijão, espinafres, couves, farelo de trigo, sementes de abóbora, girassol e sésamo, além da castanha-do-Brasil. Em alguns casos, a suplementação pode ser necessária — sempre com orientação profissional6.
3. Coenzima Q10 (CoQ10)
A CoQ10 é um antioxidante que apoia a função mitocondrial (a “bateria” das nossas células) e que tem mostrado bons resultados na prevenção de enxaquecas e no alívio de sintomas como náuseas e sensibilidade à luz e ao som7. As principais fontes alimentares de CoQ10 são vísceras, como o fígado e o coração de galinha ou vaca. No entanto, pela dificuldade em consumir esses alimentos com regularidade, muitas pessoas optam por suplementos, cada vez mais populares e acessíveis.
4. Dieta Mediterrânica
Rica em vegetais, frutas, azeite, peixe, leguminosas, grãos integrais e frutos secos, a dieta mediterrânica é um padrão alimentar protetor: graças ao seu efeito anti-inflamatório, tem sido associada a uma redução na frequência, duração e gravidade das enxaquecas6.
5. Hidratação
A desidratação é um dos gatilhos mais comuns para as enxaquecas. Beber água ao longo do dia, e reforçar a ingestão de líquidos em ambientes quentes ou após o exercício físico, é uma estratégia simples e eficaz para prevenir crises8.
Que alimentos podem desencadear enxaquecas?
1. Cafeína em excesso
A cafeína tanto pode ser aliada como inimiga de quem sofre com enxaquecas. Em doses moderadas, pode até ajudar a aliviar a dor durante uma crise. No entanto, o consumo em excesso e a sua interrupção brusca estão entre os gatilhos mais comuns9. Para quem é sensível à cafeína, é recomendável não beber mais do que 1 a 2 cafés por dia.
2. Chocolate
O chocolate é muitas vezes apontado como gatilho de enxaquecas, embora os estudos sejam inconclusivos. Para algumas pessoas, é provável que possa induzir crises devido à presença de compostos como tiramina e feniletilamina10.
3. Álcool (especialmente vinho tinto)
O vinho tinto contém substâncias como histamina, taninos e sulfitos, que podem alterar a circulação no cérebro e desencadear crises de enxaqueca10. De facto, os estudos mostram que até 30% dos doentes com enxaqueca identificam o álcool como um dos gatilhos mais comuns10.
4. Queijos curados e alimentos ricos em tiramina
Queijos envelhecidos, carnes curadas, fiambre, enchidos e alguns molhos fermentados (como o molho de soja) contêm tiramina e nitritos, substâncias que podem interferir nos vasos sanguíneos e provocar crises2.
5. Adoçantes artificiais e realçadores de sabor (como aspartame e MSG)
Muito presentes em refrigerantes, snacks, fast food e outros alimentos processados (e, no caso do MSG, também em várias receitas da culinária asiática) estes aditivos são frequentemente apontados como possíveis gatilhos de enxaqueca. A ciência ainda não é totalmente conclusiva, mas o mais importante é perceber como o teu corpo reage e ajustar o consumo de acordo com a tua sensibilidade2.
6. Carnes processadas (fiambre, bacon, salsichas)
As carnes processadas contêm nitratos e nitritos, que no organismo se transformam em óxido nítrico, uma substância que dilata os vasos sanguíneos e pode estar ligada ao início da dor. Alguns estudos mostram que pessoas com enxaqueca tendem a ter mais bactérias orais capazes de transformar nitratos, o que pode explicar a sua maior sensibilidade a este tipo de alimentos4.
7. Cítricos e frutos secos
Embora sejam alimentos saudáveis, algumas pessoas apontam os cítricos e os frutos secos como desencadeadores de enxaquecas — possivelmente devido a compostos presentes nestes alimentos, como fenóis e tiramina10.
A ligação entre alimentação e enxaquecas é inegável
Alguns alimentos ajudam a prevenir e aliviar as crises, enquanto outros funcionam como gatilhos. Não existe, no entanto, uma regra única e universal. Podes utilizar este artigo como um guia para identificar os teus gatilhos pessoais, mantendo um diário alimentar.
Regra geral, a adoção de um padrão alimentar anti-inflamatório — como a Dieta Mediterrânica — adaptado às necessidades individuais, preferencialmente com o acompanhamento de um nutricionista ou especialista em Nutrição Funcional, é um bom ponto de partida. Em vez de viveres refém das enxaquecas, usa a alimentação a teu favor e promove o teu bem-estar e qualidade de vida no dia a dia.
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