Já ouviste falar da N-acetilcisteína, ou NAC? O nome pode não ser fácil de memorizar, mas este composto — derivado do aminoácido essencial cisteína — tem vindo a despertar cada vez mais interesse graças às suas notáveis propriedades terapêuticas: atua na regulação do stress oxidativo, ajuda a reduzir a inflamação e protege as células do organismo1,2.
Durante muito tempo, a NAC teve utilizações bastante específicas: era usada como mucolítico (para fluidificar o muco) em doentes com fibrose quística e como antídoto em casos de intoxicação por paracetamol. Hoje, o seu potencial vai muito além disso — com aplicações que abrangem vários sistemas do corpo humano1. Vamos descobrir mais sobre este aliado multifuncional da saúde!
Poder Antioxidante e Anti-inflamatório da N-acetilcisteína
O benefício mais reconhecido da NAC é a sua dupla ação antioxidante: atua diretamente na neutralização dos radicais livres (moléculas instáveis que danificam as células), ao mesmo tempo que estimula a produção de glutationa, o principal antioxidante natural do nosso corpo3.
Além disso, a NAC ajuda a controlar a inflamação ao inibir a ativação do fator nuclear kappa B (NF-κB), responsável por “ligar” os genes inflamatórios em situações de stress, infeções ou agressões ambientais3,4. Isto traduz-se numa menor inflamação e numa maior proteção do organismo.
Benefícios da NAC Para o Sistema Respiratório
A NAC é uma grande ajuda para quem tem dificuldades respiratórias – a sua função mucolítica ajuda a tornar o muco mais fluido, facilitando a expetoração em doenças como a bronquite crónica, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e a fibrose quística6,7.
Graças à sua ação antioxidante, a NAC também protege o tecido pulmonar contra danos oxidativos, sendo mesmo capaz de reforçar a resposta imunitária dos pulmões — o que a torna relevante também em casos de infeções virais respiratórias, como a COVID-198.
Apoio Natural Para o Cérebro
A NAC tem a capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica e atuar diretamente no cérebro, exercendo um efeito protetor e reduzindo o impacto do stress oxidativo – um denominador comum em doenças neurodegenerativas como Alzheimer, Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), bem como em distúrbios psiquiátricos como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar9,10.
Além de restaurar os níveis de glutationa no cérebro e ajudar a regular neurotransmissores como o glutamato e a dopamina, a NAC também reduz a neuroinflamação, promovendo um equilíbrio emocional e cognitivo – é por isso que tem sido investigada como intervenção em contextos como o autismo, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e a dependência química9.
Desintoxicação e Saúde do Fígado
O fígado é um órgão-chave na desintoxicação do nosso corpo – e a NAC desempenha um papel crucial na sua proteção. Para além do seu uso clássico como antídoto em casos de intoxicação por paracetamol, a NAC tem demonstrado benefícios em situações como a insuficiência hepática aguda, doenças hepáticas de origem inflamatória ou autoimune, e na recuperação após ressecção ou transplante hepático11,12.
Ao proteger as células do fígado, contribui de forma significativa para um metabolismo mais eficaz e para uma eliminação de toxinas mais eficiente.
Impacto na Saúde Reprodutiva
No sistema reprodutor feminino, a NAC também pode fazer a diferença: estudos indicam que pode melhorar a ovulação, os níveis hormonais e a sensibilidade à insulina, especialmente em casos de síndrome do ovário poliquístico (SOP)14. A sua ação anti-inflamatória também pode ser benéfica em condições como a endometriose, ajudando a aliviar os sintomas e a melhorar a qualidade de vida15.
Conclusão: porquê a NAC?
A N-acetilcisteína é um suplemento versátil, seguro e com potencial para melhorar a saúde em várias frentes. O seu perfil antioxidante, anti-inflamatório e imunomodulador permite intervir em diversas condições crónicas, sendo cada vez mais integrada em estratégias de saúde integrativa e preventiva.
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Referências
1. Schwalfenberg, G.K., N-Acetylcysteine: A Review of Clinical Usefulness (an Old Drug with New Tricks). J Nutr Metab, 2021. 2021: p. 9949453. 2. Yahia, Z., A. Yahia, and T. Abdelaziz, N-acetylcysteine Clinical Applications. Cureus, 2024. 16(10): p. e72252. 3. Šalamon, Š., et al., Medical and Dietary Uses of N-Acetylcysteine. Antioxidants (Basel), 2019. 8(5). 4. Santus, P., et al., Anti-Inflammatory and Anti-Oxidant Properties of N-Acetylcysteine: A Fresh Perspective. J Clin Med, 2024. 13(14). 5. Mokra, D., et al., Advances in the Use of N-Acetylcysteine in Chronic Respiratory Diseases. Antioxidants (Basel), 2023. 12(9). 6. Tang, W., et al., Intravenous N-acetylcysteine in respiratory disease with abnormal mucus secretion. Eur Rev Med Pharmacol Sci, 2023. 27(11): p. 5119-5127. 7. Papi, A., et al., N-acetylcysteine Treatment in Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) and Chronic Bronchitis/Pre-COPD: Distinct Meta-analyses. Arch Bronconeumol, 2024. 60(5): p. 269-278. 8. Liu, T.H., et al., Clinical efficacy of N-acetylcysteine for COVID-19: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Heliyon, 2024. 10(3): p. e25179. 9. Bradlow, R.C.J., et al., The Potential of N-Acetyl-L-Cysteine (NAC) in the Treatment of Psychiatric Disorders. CNS Drugs, 2022. 36(5): p. 451-482. 10. Peng, T.R., et al., Efficacy of N-acetylcysteine for patients with depression: An updated systematic review and meta-analysis. Gen Hosp Psychiatry, 2024. 91: p. 151-159. 11. Amjad, W., et al., N-acetylcysteine in non-acetaminophen-induced acute liver failure: a systematic review and meta-analysis of prospective studies. Prz Gastroenterol, 2022. 17(1): p. 9-16. 12. Jia, D., et al., N-acetylcysteine in the Donor, Recipient, or Both Donor and Recipient in Liver Transplantation: A Systematic Review With Meta-analysis and Trial Sequential Analysis. Transplantation, 2023. 107(9): p. 1976-1990. 13. Sandhu, J.K., et al., Oxidative Stress in Polycystic Ovarian Syndrome and the Effect of Antioxidant N-Acetylcysteine on Ovulation and Pregnancy Rate. Cureus, 2021. 13(9): p. e17887. 14. Fang, Y.Q., et al., N-acetylcysteine supplementation improves endocrine-metabolism profiles and ovulation induction efficacy in polycystic ovary syndrome. J Ovarian Res, 2024. 17(1): p. 205. 15. Asgari, Z., et al., Comparing the effect of adjunctive N-acetylcysteine plus low dose contraceptive with low dose contraceptive alone on recurrence of ovarian endometrioma and chronic pelvic pain after conservative laparoscopic surgery: a randomised clinical trial study. J Obstet Gynaecol, 2022. 42(5): p. 1493-1497.
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